terça-feira, 16 de novembro de 2010

Projeto pioneiro inova o cultivo de ostras em Cabrália

Uso de tecnologia 3G garante nova perspectiva de renda para marisqueiras


A história de amor dos nativos do Extremo Sul da Bahia com o mar é antiga, desde sempre ele foi fonte de inspiração, de lazer e também o ganha pão de muitas famílias que vivem da pesca artesanal, tradição cultural da região e do Estado. Agora, de forma pioneira no Brasil, a comunidade pesqueira do município de Santa Cruz Cabrália se prepara para escrever uma nova página desta bela história, um projeto único no País, está sendo desenvolvido com as marisqueiras da cidade.

Mulheres guerreiras, que sempre estiveram ao lado de seus maridos e familiares, na maioria pescadores, trabalhando na limpeza de peixes e camarões e que agora deixam de lado o papel de coadjuvantes e assumem o papel de destaque, como protagonistas de seus destinos. Graças ao desenvolvimento do cultivo de ostras, há cinco meses, em parceria com a tecnologia digital, o Projeto Pescando com 3 G, apresenta ao grupo novas perspectivas de desenvolvimento. Uma parceria entre a Prefeitura, Vivo, Qualcomm, Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS), ZTE e USAID.

A possibilidade de complementar a sustentabilidade das famílias no litoral de Cabrália através da criação de ostras fez com o projeto se tornasse um referencial de capacitação e apoio à maricultura no Brasil. Atualmente com mais de 10 cultivos, e cerca de 20 membros, o projeto ressalta a importância da criação de ostras na geração de renda para famílias de pescadores.

O sistema une aplicativos móveis instalados em dispositivos portáteis e aplicativos baseados na Web para apoiar a atividade pesqueira, as operações de negócios e fornecer informação de segurança em tempo real para os membros das comunidades. A tecnologia 3G leva aos maricultores o acesso à informação, redes sociais e mercados. Potencialmente, este sistema pode ser implementado em outros municípios e países além, para apoiar a realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável.

Os participantes receberam dispositivos móveis 3G habilitados e equipados com aplicativos de software de uso simples. O sistema permite a eles se conectarem diretamente com os consumidores. “A inclusão digital promovida pelo sistema Pescando com Redes 3G expande a economia local, criando trabalho, agregando valores para os bens e serviços locais e gerando novos mercados”, declarou o engenheiro de pesca, do IABS, responsável pela implantação do projeto, Ricardo Salgueiro.

Uma questão de sobrevivência

A prática da maricultura costeira é uma forma de produção nova no Brasil e poderá assumir importância estratégica para a sobrevivência das comunidades litorâneas que começam a se interessar pela inclusão dessa modalidade, como em Cabrália. Com o crescimento populacional e uma diminuição dos recursos marítimos torna-se necessário encontrar alternativas para aumentar e manter o padrão de vida das populações litorâneas e reduzir a pressão sobre os recursos marítimos. “Esperamos ótimos resultados, as mulheres queriam aprender formas de aumentar seus rendimentos. O projeto foi essa chance”, ressaltou Aloísio Matos de Oliveira (Belisco), presidente da Associação de Pescadores.

Trata-se de criação de estratégias que permitam gerar empregos, conferir dignidade e saúde para essas populações, canalizando interesses para a melhoria do nível econômico, envolvendo mudanças estruturais básicas e preservando aspectos culturais. “É a integração da tradição com a modernidade. Uma oportunidade de jovens como eu ajudarem nossos pais e mães, pescadores há muitos anos”, declarou Ubiraci Pataxó, liderança jovem da comunidade indígena que fez o curso para utilização do aplicativo.

Mulheres ganham destaque

Através do acesso a recursos técnicos, agregar-se valores à produção primária advinda de atividades que hoje apenas complementam a renda familiar do grupo, como é o caso do cultivo de ostras, tornando-a atividade principal para famílias da comunidade, com resultados financeiros suficientes para romper os limites da pobreza. “Sempre trabalhei com pesca, limpeza do camarão, mas era apenas um complemento. Agora temos esperança de, realmente, aumentar nossa renda. Foi uma oportunidade única, já estamos apostando no comércio das ostras para esse verão”, relatou Luena Maria Ferreira dos Santos, 28 anos, dois filhos.

Trabalhando com maricultura, pela primeira vez, Jucélia Souza, de 27 anos, dois filhos, está aproveitando a experiência e agora se sente feliz por poder contribuir com o que vai ganhar em casa. “Trabalho em uma escola, mas agora vou poder ajudar ainda mais. É mais uma oportunidade”.

Para Rosadeli Nascimento dos Santos, 50 anos, há dez trabalhando com a pesca, mãe de seis filhos, o cultivo de ostras foi providencial. “Vemos o trabalho acontecer e é a nossa chance de ganhar mais do que antes, de realizar um trabalho de qualidade. A gente sente orgulho e aprendemos a pensar no futuro”. Já Lenise Nascimento dos Santos, 47 anos, oito filhos, aposta na maricultura como mais uma arma para a batalha diária da pesca. “É um modo de sobrevivência, pescar e viver da pesca é para quem tem coragem, e as ostras são mais uma forma de continuarmos a tirar nosso sustento do mar”.

Outro bom fruto, observado pela comunidade, colhido pelo projeto, foi o resgate da auto-estima das mulheres. “Estávamos sempre por fora, nosso trabalho era realizado a margem. Hoje, graças a essa ação da Prefeitura, estamos sendo reconhecidas. Além disso, estamos unidas, nos sentimos bem em trabalhar juntas, quebramos barreiras. A pesca não recebia auxílio, agora contamos com apoio da Diretoria de Pesca. Estamos muito felizes”, declarou Ediani Silva Santos, 45 anos, pescadora.





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