Confraternização e alegria na praia de Arakakaí
O Campeonato de Surf Estudantil de Santa Cruz Cabrália, com esta segunda edição realizada no dia 2 de agosto passado, já é um evento marcado no calendário esportivo do município e uma verdadeira festa de confraternização intercolegial e entre professores e alunos. Um dia escolar às avessas, onde os são os estudantes que dão aulas de habilidade, saúde e harmonia com os ventos e as marés.
O evento, organizado pelo Colégio Estadual Teresinha Scaramussa, com o apoio da Diretoria de Esportes da Prefeitura de Santa Cruz Cabrália, teve este ano maior participação de atletas, mais premiações (pranchas para os primeiros lugares) e a incorporação da categoria feminina.
Três estudantes de Santo André, na categoria masculina, ganharam os primeiros prêmios: Jadson (Jadinho), em primeiro lugar; Matheus (Parú), o campeão do ano passado, em segundo, e Wellington (Iuri) em terceiro.
Na categoria feminina só participaram duas corajosas atletas: Sedileusa (Leléu), quem saiu em primeiro lugar, e Mirela, em segundo.
Chuva e vento sul, já se sabe, longe de afugentar atraem aos surfistas as praias, desde aqueles pescadores incas no Peru que antes da conquista espanhola “inventaram” o surf construindo pranchas de totora (uma espécie de palha) para cavalgar as enormes ondas, em pé, e pescar. Estas balsas são as ancestrais da prancha, talhada em peroba por George Freeth e Duke Kahanamoku, nos primeiros anos do século 20, no Havaí.
Restos arqueológicos e pinturas parecem demonstrar que, muitos séculos antes de Havaí, os indígenas de nossa América “surfavam” em seus cavalos de palha nas enormes ondas das costas do sul do Peru. Em Paracas, quebra a onda hoje chamada de San Gallán, conhecida como a melhor direita do Peru, um pointbreak de tubos longos e redondos que lembra a Indonésia.
Retornando ao Oceano Atlântico e a praia de Arakakai, vinte atletas participaram do Campeonato: Sidileusa, Mirela, Matheus Assunção, Mattia, Leandro, Jadson, Jakiam, Caique, Kelvin, Samuel dos Santos Rocha, Samuel Moreira, Jackson Richard, Mateus Cesar, Igor, João Lucas, Gabriel, Cauan, Rony, Iran e Wellington.
Todos os estudantes (do Colégio Teresinha, o Colégio Estadual de Santo Antonio e a Escola Nair Sambrano) deveram apresentar autorizações assinadas pelos pais para poder participar.
A música de Bob Marley, o animado relato de Guilherme “Foca” (jovem surfista veterano de Santa Cruz Cabrália) e do professor Eneas, a colaboração do Diretor de Esportes, Damião, da Diretora do CEPTS, Márcia, os professores Cacilda, Marciana, Clara, Eron, Evandro e a secretaria Cleiane, animaram o Campeonato. Seu Antonio (Rato) acolheu a todos na sua barraca e Adail instalou a equipe de som e microfones.
Além de Guilherme, locutor oficial deste Campeonato, Allison e outros surfistas que já terminaram a escola chegaram cedo para apoiar aos mais jovens e pegar algumas ondas antes do inicio do evento.
Outros que trabalharam duro foram os estudantes e também surfistas João, Lucas e Otavio, os prestigiosos integrantes do Jurado do Campeonato.
Tal como aconteceu o ano passado, os organizadores trouxeram membros do Corpo de Bombeiros do Batalhão da PM de Porto Seguro, Isaías e Barreto, como guardavidas do Campeonato.
Uns cem estudantes e várias mães, como Marineide, Daisy, Andrea e Patricia, prestigiaram o evento e em representação delas a verdadeira mãezona Marineide entregou- orgulhosa e sorridente- a premiação ao seu filho Jadinho.
A professora Cacilda (Biologia) organizou um mutirão de coleta de lixo na praia e na barraca do Rato e o Campeonato foi encerrado com um desfile de modelos chamado “musa da praia”, com o seguinte resultado: Ingrid (primeiro lugar), Pámela (segundo) e Thais (terceiro).
A diretora do CEPTS, professora Márcia, prometeu para o ano próximo o Terceiro Campeonato.
O surf já tem uma historia de excelentes atletas em Cabrália, que acostumam treinar também na praia de Guaiú Mirim, onde colocaram um cartaz pedindo que cada um “Leve seu lixo”. Para chegar a essa praia, os surfistas devem passar por uma propriedade particular, pois como acontece em quase todo o litoral da Área de Proteção Ambiental (APA) Santo Antonio, faltam acessos públicos que garantam ao cidadão, e as comunidades tradicionais como os pescadores artesanais, o direito legal de acessar as praias que são Área da União, e pelo tanto patrimônio público.
No Conselho Gestor da APA, empreendedores que possuem propriedades frente à praia de Guaiú Mirim se comprometeram a ceder dois metros cada um para deixar um acesso publico, medida solicitada por socioambientalistas do município. Esperamos que esses compromissos se cumpram e que em curto prazo existam acessos públicos a cada 300 metros, pois a realidade hoje não somente para os surfistas, senão para pescadores, marisqueiras e também para os turistas e percorrer quilômetros até achar um acesso.
Talvez um dia os surfistas, com seu espírito libertário e uma ligação profunda com os ventos e as marés, se unam a pescadores, pescadoras, e socioambientalistas para que o direito de ir e vir seja uma realidade e para que as praias não sejam somente território de condomínios e hotéis, mas também do seu proprietário legal: o povo brasileiro.
Patricia Grinberg
Fotos Toni Ormundo